Então, é que eu carrego uma sacola imensa de vontades e quando ela arrebenta a alça, minhas mãos são poucas para aparar.
Sim, minhas mãos são pequenas. Eu nunca te contei? E você nem deve ter reparado, mas elas são. São mãos pequenas, dessas de dedos finos e longos. Não sei se bonitas, na verdade, dedos finos e longos; existem metáforas aos montes para eles mas não me cabem, assim como os anéis, as metáforas sempre acabam sobrando, são grandes demais.
Outra particularidade, são frias. Ai, é isso! Eu sei que nunca te contei, são geladas as minhas mãos e em certas épocas usei isso como uma forma quase boba de fazer graça e conquistar com meia dúzia de frases prontas. Por isso lembro, não te contei, porque hoje as escondo nos bolsos, procuro um calor que nem me é, só para que elas não pareçam tão assim - frias e pequenas - são as minhas mãos que não conseguem juntar pela alameda esse tanto de vontades.
Normalmente, as que recupero são as mais pesadas, as que rolaram pouco e mansas. As de costume. Pego já não querendo pegar, sabe? E daí me confundo, jogo longe, escondo no fundo do bolso. Vontade descabida é foda [não achei outro adjetivo, desculpe-me]. Desvontade também é, e vontade que está ali só por estar é desvontade crua. Então escondo e penso que, quem sabe um dia eu possa colocá-la no forno, voltar a assar, tranformar, dourando as pontas.
Bem, mas hoje o dia é outro. Um dia mais leve que o de antes, sem o respiro de antes, sem a sacola também. E por ser mais leve e por estar assim, com a alça arrebentada e todas as vontades espalhadas pelas ruas, é mais vazio esse dia. E daí, olha só, eu não sei se você sabe, eu sempre soube, sempre nego também, mas isso não me tira a consciência. Eu não sei se tu sabes, que o vazio tem um peso tão maior, muito, muito maior que a mais imensa e cheia sacola que minhas mãos pequenas possam carregar.
Sim, minhas mãos são pequenas. Eu nunca te contei? E você nem deve ter reparado, mas elas são. São mãos pequenas, dessas de dedos finos e longos. Não sei se bonitas, na verdade, dedos finos e longos; existem metáforas aos montes para eles mas não me cabem, assim como os anéis, as metáforas sempre acabam sobrando, são grandes demais.
Outra particularidade, são frias. Ai, é isso! Eu sei que nunca te contei, são geladas as minhas mãos e em certas épocas usei isso como uma forma quase boba de fazer graça e conquistar com meia dúzia de frases prontas. Por isso lembro, não te contei, porque hoje as escondo nos bolsos, procuro um calor que nem me é, só para que elas não pareçam tão assim - frias e pequenas - são as minhas mãos que não conseguem juntar pela alameda esse tanto de vontades.
Normalmente, as que recupero são as mais pesadas, as que rolaram pouco e mansas. As de costume. Pego já não querendo pegar, sabe? E daí me confundo, jogo longe, escondo no fundo do bolso. Vontade descabida é foda [não achei outro adjetivo, desculpe-me]. Desvontade também é, e vontade que está ali só por estar é desvontade crua. Então escondo e penso que, quem sabe um dia eu possa colocá-la no forno, voltar a assar, tranformar, dourando as pontas.
Bem, mas hoje o dia é outro. Um dia mais leve que o de antes, sem o respiro de antes, sem a sacola também. E por ser mais leve e por estar assim, com a alça arrebentada e todas as vontades espalhadas pelas ruas, é mais vazio esse dia. E daí, olha só, eu não sei se você sabe, eu sempre soube, sempre nego também, mas isso não me tira a consciência. Eu não sei se tu sabes, que o vazio tem um peso tão maior, muito, muito maior que a mais imensa e cheia sacola que minhas mãos pequenas possam carregar.



