27.2.08

Insonia

"Quanto a escrever, mais vale um cachorro vivo."
Clarice Lispector: A hora da estrela


17.2.08

As coisas boas

E daí era sábado e fazia sol. Eu alí parada, como eu sabia que estaria, ali parada, adivinhando de que lado você iria chegar. E lhe adivinhar era transmutar em espera, porque ninguém, todas aquelas pessoas que passavam, ninguém me via e eles riam e brincavam de sábado - todas as pessoas que passavam sem saber que eu apenas esperava por você que chegou - e engraçado, pois chegou de um canto que eu não imaginaria e ao mesmo tempo, quando lhe vi, soube, bem alí. E era sol e eram pessoas passando, bem alí, na consciência que seria assim. Eu, parada, simplesmente. Então era assim, eu ali, esperando... pessoas, bagagens e no saguão largo querendo ser praça, você apareceu e tudo sumiu. A calçada larga que sumiu no vão, que ficou longe de mim como uma brincadeira de roda, porque você também começou a sorrir, eu baixei o rosto - uma timidez esquisita essa que quase me faz lhe perder, assim perder de lhe ver acelerando o passo - porque para mim sorrias, as sandálias acarinhando o piso... porque sorrias, e era somente assim, flanando em um desinteresse pelo tudo que nem mesmo o tempo suportou. E foi aí que a praça voltou, o mundo em um esforço, voltou o som, as pessoas, todas elas que passavam, como despertas, todas que andavam pela calçada disfarçada de praça, como se seu passo - e foi então que exitastes e por segundos eu não soube o que fazer - você alí, só alí, maior do que sempre adivinhara. Era assim, tão maior que segurei dois tempos de vida quando, finalmente, seu segundo pôs fim. E foram dois tempos de vida que prendi em seu abraço e em seu beijo, para que na minha miudez simplesmente não desaparecesse. Cabelos caindo ao lado do rosto e eu querendo que o mundo fosse espelho, todas as paredes - e alí nem muitas paredes tinham - mas queria que todas fossem espelhos, para que me cercassem o seu reflexo pequeno, tão pequeno, querido assim, pequenininho o reflexo. Os reflexos que me cercariam, enleada eu seria entre todos os seus - e foram os seus cabelos caindo ao lado do rosto, seus cabelos que só poderiam lhe pertencer, assim, os fios que não eram longos, não, não eram longos, eram só fios que teimavam pelo pescoço, despertando vida - em um mundo grande demais para você que só sorria, uma calma que lhe servia como medida ou uma calma que lhe aproriara. E pensei que estava sendo egoísta em pegar toda ela para você, numa faísca que fez graça no momento enquanto lhe olhava, que seria só um isso assim: um subir para as cores, para as formas, um subir como o seu sorriso, um subir breve como os fios que lhe caiam na nuca, mas um subir tão querido, um subir que alí o mundo se convertia à sua forma. E por isso era bom. E por isso foi bom. Como o despertar para uma vida toda de felicidade.

êêêêh! Festa da Lia...

E eu amo muito a minha irmãzinha do meio! Parabéns, viada!

13.2.08

Eu não posso encasquetar com um algo e não ver a solução de. E também, deveria evitar assistir filmes abalo-sísmico muito seguido. Infidelidade é uma historinha que mexeu desde a primeira vez (e era uma noite fria e insólita, afinal o cenário sempre contribui) que vi no cinema. Sempre descubro uma nuance nova nesse filme. Até as nuances nos cabelos do Richard Gere eu consigo descobrir novidades. Sim, é exagero. O caso é que abala e de um jeito que não sai da cabeça. Assisti ontem, pela quarta vez, porque precisava me libertar de uma história. De fato aconteceu, sai totalmente do meu enredo, mas entrei sobremaneira em todas as lembranças do marido... e quem diz porque? Tá, eu sei que isso não adianta nada e que a única saída para fazer um desaguar num bom texto é: ir para frente do maldito Word e trabalhar. Ou melhor, sentar a bunda na cadeira e simplesmente escrever.
Não o farei.
Preguiça de lado, dessa vez. Meus motivos são tão simples. Não estou afim, pelo menos agora, de alimentar alguns medos. Esses gordinhos que pensam - na verdade, supõem, caso pensassem seriam menos enfadonhos - que a minha vida gira em torno deles. Como se cada coisa, frase, texto, ou o tanto que me formam fossem feitos para eles. São medos, não são? E medos fazem assim mesmo, não podemos alimenta-los demais, porque quando colocamos o aviso de não tocar no bolo, eles não suportam e metem o dedo. Deveriam fazer dietas. Pelo menos, se depender de mim, hoje, morerrão a mingua.

6.2.08

O anteceder das coisas boas (parte II)

"...Mandei uma mensagem a jato às entidades do tempo
Já me foi verificado que nem mesmo haverá segundos
Que os minutos foram reavaliados..."

Eu lembro de você quando ouço Avassaladora. E quando ela toca sempre me vem a vontade de estar com você. E após estar com você, tenho vontade de te abraçar e dormir. Dormir um sono leve, sonho dos anjos, sono que antecede uma saudade imensa, mas uma saudade que não dói. Aquela saudade que traz um sorriso quando recordo, sabe? Como se isso fosse possível. Pois bem, para você e para mim é. Porque tudo que nós acreditávamos não ser possível, com a gente foi. Um sentimento tão livre, acima do chão. Muito acima do meu coração. Deste meu coração que está ao teus pés. Ahhh, e teus pés já sabem exatamente onde pisam. Já os meus... os meus pisam descalços. Adoro essa liberdade que nos prende, esse pouco esforço que fazemos e a maneira perfeita como tudo se encaixa. Adoro sua vida ainda não ser minha e nem a minha vida ainda não ser sua, e ao mesmo tempo, pertecerem-se... assim, uma vida inserida na outra, fundidas, formando uma alma só. De algum jeito um universo só nosso. E vezenquando eu até tento achar algum defeito na gente, mas com você eu descobri que tenho preguiça de usar a antiga tática de fuga, eu não consigo mais me desprender de você. E me recorda versos de Marisa "...mas eu te quero livre também", quero que você respire, porque eu também preciso respirar. E você me dá ar, e você me dá aconchego, e você me dá nada e tudo. E sem querer definir, sem querer limitar afirmando apenas que és o amor da minha vida, porque ficaria de fora a soma das alegrias que me proporciona quando me fazes mulher, tua mulher. E por você não há culpa, não há nada que não valha a pena... sentimento único.
Como dizes "incomparável, imensurável e sobretudo, atemporal...".
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