Queria mandar um e-mailzinho para todas a gente que, de um jeito ou de outro, me enche o saco. O tipo de pessoa que não colabora, entende? O mesmo tipo que não faz a menor questão de absolutamente nada, nem mesmo de estar aí para o universo, quanto mais para mim que estou aí para elas. Existem alguns níveis nesse e-mail. Embora o recado pudesse ser um só.
Existe aquele tipo que ultrapassa os limites, mas ao mesmo tempo não se importa com isso devido ao nível fútil e raso da relação. Porque me conhece quase nada, ou apenas conhece um about me que anda por aí em perfis do orkut e afins, e insistem em achar que, de fato, sou eu.
Também há os filhos.da.puta non sense. Com certificado Inmetro para sacanagem, onde eu entro como mais um nome na lista das pessoas que eles farão de bobas, tomarão um tanto do tempo, não darão a menor importancia para o esforço em manter algo bom e todas aquelas coisas que, infelizmente, de uma maneira ou de outra, todos nós já sabemos como é.
Depois, tem a lista dos doentes, desvairados, loucos, que precisam de tratamento, sei lá... Seriam, em um clichê, dignos de pena. Não tenho pena, coisa mais horrorosa sentir pena. O sentimento correto, talvez, fosse compaixão. Mas, francamente? Também não tenho nenhuma compaixão. Nada a ver com aquela conversa de “quando que eu preciso, ninguém tem compaixão por mim”, afinal, compaixão deve ser um sentimento intrínseco. Só que, assim, colocando a coisa politicamente correta no espaço, não sou altruísta a esse ponto, muito menos tenho disposição para compaixão all fucking time.
Junto com esses, poderia até adicionar aqueles que não tem desvio de caráter, não são doentes, nem são maus, tem um nível de relacionamento razoável comigo para saber o que estão fazendo, mas mesmo assim não conseguem se conter e, em determinadas ocasiões, são podres – mesmo que nunca se dêem conta disso. Por muita sorte, esses são poucos, porque a vida me ensinou que com esse tipo, mais do que com todos, só existe um jeito para lidar: clicar com o botão direito do mouse e excluir. Depois não pode esquecer de esvaziar a lixeira, porque têm alguns que são tipo vírus e voltam. É humanamente impossível manter uma rede de relações com pessoas que você não sabe quando vão lhe cuspir no olho (porque na verdade, nem elas sabem).
Assim como a falta de compaixão, com o tempo, acabei por adquirir uma total falta de paciência para tentar desenhar para as pessoas que não conseguem enxergar, o mal que elas próprias geram.
Creio que esse instante aconteceu, porque me dei conta que eu mesma não era nenhuma santa. Por isso, mesmo involuntariamente, vezenquando também fazia/faço coisas ruins. E isso pode parecer muito idiota, muito simplório e estúpido também. Vocês podem pensar: grande coisa, todo mundo é assim: tem esses dois lados. O lance claro-obscuro. Vamos é parar de ingenuidade, afinal, esse papo claro-obscuro-do-Ser é muito lindo se todos fossemos orientais. Mas, como bons ocidentais que somos, mesmo sabendo da ambiguidade, a escondemos. Ou seja, a maioria das pessoas tende omitir que conhece o seu lado podre.
Eu podia não ter dado a mínima para isso. Ter continuado a viver do mesmo jeito, como quando tinha oito anos. Se temos oito anos e chamamos o vizinho de gordo, afinal, ele é gordo mesmo, estamos apenas sendo sinceros, não é mesmo? É. Apesar de achar divertidíssimo brincar numa piscina de bolinhas, não tenho mais oito anos; e bem, se meu vizinho é gordo, isso é problema dele. Ou pode nem ser um problema para ele. O que eu tenho a ver com a vida do meu vizinho? Aliás, o que meu vizinho tem a ver com esse texto?
Só queria dizer que optei por ter um pouco mais de cuidado. É claro que não virei a Madre Teresa de Calcutá. Só tenho um pouco de cuidado com aquilo que existe ao meu redor. Isso inclui pessoas. Essas mesmas para quem gostaria de mandar o e-mail, as mesmas que me enchem o saco, as mesmas que não fazem a menor questão de dispensar um pouco de atenção para as relações que estabelecem com outras pessoas.
A outra opção que fiz, hoje e agora (porque a opção anterior já faz alguns anos), foi de não mandar e-mail nenhum. Se eu tivesse muita sorte, em uma lista de 30 pessoas, apenas 29 iriam se ofender. Isso se eu tivesse sorte e eu não sou uma pessoa sortuda.
Geraria um drama, que partiria para ofensa. Criticar pontos específicos do comportamento de alguém pode ser o mesmo que iniciar uma briga. Porque é assim que as pessoas encaram quando você diz: não gosto disso que você fez/faz para mim. Isso me faz/fez mal e me magoa. Não gosto disso em você, é feio ou ruim. Mesmo que não seja em tom áspero. Mesmo que não esteja falando da pessoa em si, mas de algo muito específico em seu comportamento, você é visto como alguém que costuma apontar o dedo por aí, soltando gotículas aos gritar: “você é um grande demônio e aposto que na outra vida foi algum nazista e eu um pobre judeuzinho que você atirou na câmara de gás”.
É incrível a impossibilidade do ser humano de expressar exatamente o que sente, e isso acontece em todos os lugares, em diferentes níveis. Entre o ato de falar e o ato de ser compreendido existe um espaço tão imenso e acredito que cada dia as pessoas estão mais e mais distantes uma das outras aumentando esse precipício, que a interpretação do que é dito chega ao ridículo. Quem diz o que sente vira maluco, traidor, míope, ou qualquer coisa do gênero.