26.10.08

Calmo e tranquilo.

Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que fica em mim é cada vez mais essencial... e verdadeiro. Tantas, meu Deus, as que se foram... e daí acordo com a voz safada de Cazuza repetindo em minha orelha fria: "Quem tem um sonho não dança, meu amor..."

22.10.08

Sobre filmes.

Vezenquando eu fujo pra dentro do meu filme preferido e fico por lá, escondida...
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Filmes colocam essas auras engraçadinhas. Elas são a little bit charlotte, por exemplo (embora eu o seja em excesso, é bem verdade). Eles tem um tanto de tennenbaums. Todos se perdem em brilhos eternos. Filmes instauram esses sentidos do absurdo, como atender o celular dizendo "hello, stranger". E você já atendesteu o telefone assim? Se eu te ligasse, você atenderia o telefone assim?
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Os filmes, (e daí são os americanos que mais preferem), atiçam sobre a facilidade do tudo celebrar, sobre a festa do trágico, porque a personagem comemora a perda do primeiro dente, o pé.na.bunda dado pela namorada, fazem velórios de gatos, promovem festas para fundos beneficientes estranhos.
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Em filmes, as comemorações de despedida ganham um tom de eterna, que na vida se perdem nas fotos esquecidas, nas fotos não tiradas. Os filmes promovem essa facilidade do se espelhar no outro mais bonito, mais atraente... mas, principalmente, no outro que tem a coragem de ousar o absurdo que nós não temos.
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Em filmes, convida-se a menina para ir até a sua casa, segura-se a mão do menino os dois segundo a mais, aqueles suficientes para supor um beijo, e mesmo que o beijo não ocorra naquela cena, em filmes, a janela do menino tem sempre uma escada em que a menina pode subir até o seu quarto, ou a janela do quarto da menina tem uma escada para que o menino suba até o seu quarto, ou para que outra menina suba no quarto da menina, ou que outro menino suba no quarto do menino.
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Os filmes brincam com aquele impossível, que no fundo-do-fundo, não seria tão impossível se tivessemos a pequena coragem de escrever o roteiro da vida com um pouco mais de fôlego. Ou se admitissemos que a vida de racional não tem absolutamente nada, e nos deixassemos embalar pelo absurdo que de fato ela é.
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Vezenquando eu fujo pra dentro do meu filme preferido e fico por lá, escondida...

17.10.08

Presente.

Quem quiser me presentear, dvd novo da Marisa Monte é uma ótima opção.
Pode vir aqui e pesquisar.
Obrigada.

16.10.08

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Agora é cedo.
Abro a boca, sai ar, sem som a voz que sai, nem quase minha - parece muito menos, menos de tudo. Quero um chá, limão não tem, traz hortelã, pode ser? pode ser sim, traz então, vem. Na xícara, um já. Calor da louça é calor do dia e tudo transpira na cidade que responde inteira: é verão! é verão! é verão! penso em ti. Ou lembro. O pensamento confunde com lembraça, sei lá quando um é do um quando o outro é do outro. Sei que é de ti porque do outro lado da rua vem uma moça. Passou, cabelo preso com jeito de cabelo que tem vontade de ser solto, estendendo o corpo ao longo dos braços fortes - bons para fazer a bola ir longe na hora do saque. Toda escondida atrás dos óculos escuros, mas não tem sol, eu digo que nem tem sol, serve mais chá, o que? O sol. Nem tem. Então deve ser por isso que. Por isso que te lembro, vai ver que aí, nesse teu lugar o sol racha e a essa moça daqui cruza a rua e sobe outra calçada. Upa!
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Um pouquinho só mais tarde ficou.
Escorre. Mela ponta dos dedos. Meladinho debaixo das unhas, guardando gostinho no fundinho da cutícula - o mel. Escorre. Âmbar, cascata, faço fiozinho dourar até xícara-mar-de-hortelã. É um poço. Todo poço verdinho. Bom de banhar. E vai dourar - tu também? - docinha. Bom. Escorrega na cadeira, todo corpo meu, é como o dia que vira tarde para depois querer cansar e virar noite: escorrega no final. Toda tarde vira inha, toda zinha, a depois a tarde já se foi. Percebeu? no risco entre o prédio e o outro atravessa pardal - lá tem nuvem. Docinha. Bom.
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O tempo é tempo que não precisa mais contar.
Agora, bebo. Que é bonito. Vezenquando é bonito guardar um gosto. No sempre, é sim. Bebo. Doce. Olho longe, desponta aguda a nuvem na esquina, quer fugir. Rindo, quero água - pode água? sem gelado, só se for. E é. Bebo. A nuvem volta, o sorriso também. Guardo, aguardando. Depois vai ver que sobra um infinito. Quase na concha dos mãos. Na palma. No gesto. Numa fazedura de guardar segredos.

12.10.08

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'.

9.10.08

Para quem não (d)existe...

"...para manter-me vivo, saio à procura de ilusões como o cheiro das ervas ou reflexos esverdeados de escamas pelo apartamento e, ao encontrá-los, mesmo apenas na mente, tornar-me então outra vez capaz de afirmar, como num vício inofensivo: tenho um dragão que mora comigo".
Caio Fernando Abreu.

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Ardem-me, pois, aos olhos, às cebolas.

Prova e me diz...

...de que gosto é teu pedaço de céu?

8.10.08

Rá!

Um dia é da pedra. O outro é da baladeira!