26.4.09

Quando já não há mais porque calar.

... tremo
de sede
a leveza desenha em teu corpo.
...desenho
no teu corpo
os poros mergulham no teu suor
... mergulho
teu corpo
o céu treme com teu gozo.

19.4.09

Oito horas.

Então que era sábado e que sábados são bons, assim, mesmo em uma cidade que não é da gente, em um calor que não é dessa cidade, só assim, vertendo duas almas, porque é bom estar nesse espaço que não é bem um espaço, vivendo entre parentêses uma vida que sim, essa vida sim, poderia ser minha, só minha e tá, eu sei que poderia ser também tua, mas eu fico meio assim, sou tímida e pequena demais para sair por aí perguntando se queria que assim fosse, esse parênteses, esse colchete se tranformando em vida, sendo calminha assim, sendo tranversa, as duas almas que a gente reflete no espelho e que a gente reflete nos olhos claros e reflete nas mãos que acolhem as minhas mãos em uma brincadeira terna de viver assim, meio sem jeito, de ir vivendo e subindo as ruas e ir assim, tomando dessa vida que é um tanto igual, mais um pouco igual, de um parecer e de um pertencer tão íntimo e ao mesmo tempo tão longe de, mas que agora e que assim, que agora em meia dúzia de frases e em meia dúzia de gostares e em meia dúzia do que pode ser nosso, eu deixo fluir sem espinhos. Por pétalas de margaridas. Por caule. Pelo branco macio. Feito margarida. Feito flor. Feito.

18.4.09

Falar como se tinha tanto barulho quando você telefonou? Tua voz quase colada nos sons dos pássaros que gritavam desesperados nas pedras, é incrível como gritam os pássaros, alucinados no meio do dia, os gritos chegam como se fosse a voz de uma pessoa chamando, Margarida, o vento como se falassem dentro da minha cabeça, uma voz de duas mãos espalmadas em minha cabeça revirando meus cabelos, isso tudo enquanto você tentava me dizer o que mesmo, Margarida? Precisamos conversar, sempre precisamos, é assim, não é? É uma angústia e como sempre alguma coisa precisa ser dita, mesmo quando o sol queima as pontas das orelhas, esqueci o filtro solar na outra mochila e para cá não se pode trazer muita mochila, contei que se anda mais de meia hora por uma estrada horrível até chegar aqui, Margarida? Eu sei que precisamos, claro que sim, a estrada de areia, entende, areia da praia, tudo virado em areia, as ruas, as ruas também de areia, as casas amontoadas, crescendo nas dunas, logo de longe se vê isso tudo, no meio de uma savana absurda, eu já usei esse adjetivo, não usei? É que tudo anda meio assim, Margarida, como se o céu fosse cair agora, despencar como despencam as marquises nas calçadas, e o sol fosse sair rolando, um disco enorme e amarelo rolando pela areia em direção ao mar até se afogar inteiro nesse espaço absurdo que é o mar, principalmente quando chegamos perto das pedras, enormes o mar e as pedras, mas é bem antes que se pode ouvir os gritos dos pássaros, esses mesmos que você ouviu e perguntou onde eu estava, onde eu estava, Margarida, como se isso importasse, a distância sempre a distância, podemos medir em metros a necessidade que temos de, mas eu não podia lhe ouvir direito, você sabe, o vento é pior que uma língua insistente nos ouvidos, impossível ouvir direito, e fiquei com medo, no fundo fiquei com medo de simplesmente dizer;
ficar à vontade para ouvir sua voz, o eco da sua voz dentro de mim, feito as respostas insanas dos pássaros - porque pela primeira vez, Margarida, não tenho nada para.

17.4.09

Boa tarde!
Já passou das três e meia e hoje não tem post.
Vai trabalhar.
E um dia eu lerei mais do que algumas páginas:
"Ele estava só. Estava abandonado, feliz, perto do selvagem coração da vida"
Joyce

12.4.09

Sempre a pleno sol era tipo um segredo. Um porvir. Como a grama que cresce formando um tapete perfeito, resistente ao passeio por causa do entrelaçamento dos estolhões com as folhas, ele havia lhe dito, os lábios quase colados em seu ouvido enquanto no rádio insistia a música que nenhum gostava. Ela sorriu, repetiu estolhões, os lábios comprimidos contra a ponta dos dedos dele.
"A grama se chama esmeralda", o sorriso abriu pouco mais, olhos quase fendas. Grama. Verdes. tipo um segredo. Um porvir. quanto mais o sorriso crescia mais os olhos fechavam, pequeninos. Ele beijou o canto dos lábios, esmeralda, enraízam com facilidade - verdes, faiscavam, lábios entreabertos roçavam nos outros lábios entrebertos - pra manter a coloração intensa, é preciso adubar com freqüência.

8.4.09

O Lula disse à revista Época tempos atrás.
(e eu só pude ler agora...)

''Se eu deixar que me chamem de bêbado sem fazer nada, daqui a pouco alguém vai dizer que eu sou gay e vocês não vão me deixar fazer nada''.

Estou equivocada mas o Ilmo.Sr. Presidente é recorrente na postura preconceituosa?
Então ser bêbado é tão ruim quanto ser viado? (e viado sem ofensas, quem me conhece sabe bem que).
Ótimo!
A estrela cai, amigos. E juro, não é por cadência - caso for, meu pedido já está feito.
Quase seis semanas e eu ainda tenho um "isso vai doer" retumbando em minha mente. Li algo sobre verdades, e como escrevi em um post mais embaixo, a verdade liberta. Dóóóói, mas liberta. Deixa a gente livre para usar o passaporte, o nome real transfigurado em nome de guerra: a verdade é só isso, penso ser o sub-texto do texto, carência, frustrações e ego travestidos de 'amorzinho'.
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Para fechar, o mais difícil de mudar algo em sua vida de uma hora para outra é continuar encontrando pedaços do que era no que precisa ser. Assim como as pessoas não poderiam morrer de uma hora para outra, sentimentos não podiam deixar assim, do nada, sem aviso prévio de no mínimo 40 dias.
Ou pelo menos, a gente não deveria guardar tanta bobagem.
Senhor: protegei e dai vida longa ao homem que inventou o ar-condicionado.
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Eu (ainda) PRECISO parar.

5.4.09

Espanto-me. Em saber que os seres são capazes de mudar de forma tão rápida que passam a ser meros desconhecidos. Assusto também com a falta de consideração e respeito das pessoas, em como só elas são capazes de jogar na cara, de humilhar, de descarregar uma arma na cabeça de alguém não porque uma bala só não mata, porque a repetição da morte pode causar êxtase.
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É espantador também como não existe limite, como os valores são subvertidos, como ter moral, caráter, ética pode ser confundido com fraqueza, babaquice, estupidez, ou a pior desculpa de todas: a falta de compreensão dos sentimentos alheios.
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Canso. Canso com o medo das pessoas de falarem verdades, com a fraqueza na hora de ser sincero, com os meios idiotas que alguns usam para passar despercebidos. Meios falados enjoados e canso mais ainda com disfarces e máscaras para a falta de vergonha na cara.
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Cuspo na cara de quem se acha espertinho, de quem se acha bom por ser mesquinho, de quem ri da cara dos outros e pisa em quem nunca lhe fez n-a-d-a. Cuspo também em quem pisa, ainda que tenha se feito alguma coisa, mas pisa com sandália de cristal pensando que vai machucar menos.
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Torço para que se fodam todos aqueles que acham que podem enganar por muito tempo, quem acha que é inesquecível ou irresistível, que pode hipnotizar ou conquistar por força de veneno, maldizeres teia de cetim. Aliás, recuso qualquer tipo de teia, porque quem muito se encanta com a força da aranha, esquece que ela não ganha por nenhum mérito a não ser o poder de paralisar e tornar a vítima incapaz de agir por si mesma. Mas que explodam as aranhas, porque são burras e esquecem que quem ganha sempre é a cobra. Enfim.
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Me sobram poucos, mas aos poucos que sobram serei eternamente grata.
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3.4.09

Equanto me amarro para sair, estive imaginando que teria uma série de coisas relevantes para postar. Sobre literatura, música ou sobre o emprego novo, teriam outras tantas, porém todas irrelevantes, como meu novo deleite cultural (deleite cultural está aqui querendo dizer Clarice Lispector) ou a minha alegria por estar a cada dia uma pessoa mais ativa e assim, saudável.
Coisas que não dizem respeito a ninguém, mas que poderia jogar em posts umbiguistas, fantasiados com frases bem elaboradinhas. Poderia até, brincar um pouco com a tal literariedade.
Não farei.
Preguiça de lado porque, dessa vez, meus motivos são um tanto simples. Não estou afim, pelo menos não agora, de alimentar alguns egos. Esses obesos que pensam - na verdade supõem, caso pensassem seriam menos enfadonhos - que a minha vida gira em torno deles. Como se cada coisa, texto, frase ou o tanto que me formam fossem feitos para eles. São egos, não são? e egos fazem assim mesmo, não podemos alimentá-los muito, porque quando colocamos o aviso de não tocar no bolo, eles não suportam e metem o dedo. Deveriam fazer dietas. Pelo menos, se depender de mim, morerrão a mingua.