Sabe que, nesses dias, venho pensando em coisas muito complexas referentes às sensações fisiológicas, diferenças de gênero e por que mulheres são tão mais afetáveis que homens nos quesito incômodo, sugestão e satisfação.
Conversa entre amigas é sempre muito mais sensual que a dos homens, que é, senão vulgar, pelo menos desrespeitosa à condição feminina enquanto ser que sente, pensa, tem necessidades e muita sensibilidade emocional. Claro que os assuntos femininos rendem também comentários infelizes envolvendo genitálias e palavras de baixo calão, técnicas estéticas e afins, o que não torna o assunto menos rico. Se se conversa entre amigas, compreende-se o que se quer dizer com algumas afirmações meramente empíricas, generalistas, carnais e muito inteligentes.
C. S. Lewis menciona em “Os Quatro Amores” que a amizade feminina não chega a ser tão genuína quanto a masculina. Demorei inclusive a compreender onde ele queria chegar com isso. Enquanto supervalorizadora da “cultura” feminina (e não feminista necessariamente) posso levar à discussão de por que a amizade feminina seria tão genuína e como temos, não especificamente noticiada e documentada a nossa arte de conquistar. Tem A Arte de Amar, de Ovídio, tem as falas machistas por vezes, de Bukowski (e com isso não quero dizer que não apreciemos, em momentos, certo nível de sexualidade explícita – pouco mais adiante discutida), tem Moacyr Scliar, com A Mulher Que Escreveu a Bíblia e mais um sem-número de autores (masculinos) que exaltam a mulher em sua forma mais objetificada.
Daí que quando você se depara com Clarice Lispector falando sobre e para a mulher, seus sentimentos e suas sensações, isso faz você se admirar, porque chega a conseguir, de fato, sentir o que ela põe no papel. Digo você, mulher, porque na verdade a alma masculina se vê desafiada a transformar em “coisa de pele” o que está no papel, que dirá exposto em caracteres unidos entre si semanticamente.
Não precisamos recorrer à Bíblia para falar que o Cântico dos Cânticos de Salomão é O livro para a boa vivência “relacionamental” do casal – e que valoriza a mulher como realmente esperamos (isolando alguns fatores tipicamente, ou exageradamente, românticos). Não precisamos também mencionar a exposição crua da sexualidade de mulher na profissão mais antiga da história com a senhorita Surfistinha. Cada obra com seu autor e suas intenções. E não falamos também que tudo o que está escrito não deva ser lido.
Se a mulher fosse, conforme se noticia e visualiza por aí, um aglomerado de pele, cabelos sedosos, par de mamas, poros sensíveis, suor atrativo e genital influenciável (sem mencionar os “acessórios”: lingerie, make-up bem feita, roupa estrategicamente vestida), certamente seria muito fácil de encontrar – e de ter, também. Não queremos com isso dizer, também que não haja esse tipo de kit vagando por aí. Quero explicitar o fator X responsável pela atratividade, “interessância” e manutenção da boa mulher, digo o selo de qualidade.
Quando a mulher chora, ri, conversa, ouve, ela transcende o significado de companheira por trejeitos, intenções, jeitos diferentes de olhar, de se portar, de se vestir, e de acompanhar, efetivamente. Perceba que ela não faz exatamente o que não gosta única e exclusivamente para agradar, mas porque deve sempre receber de volta atenção, carinho e força (entenda como quiser) – e sabe que merece.
Quero chegar ao ponto em que as pessoas devem compreender as diferenciações entre os sentidos: homem é basicamente visual e imaginativo. Ponto. Mulher é auditiva, tátil e olfativa. A imaginatividade dela se manifesta mormente nos momentos de solidão. Ponto. O que se infere disso? Que a mulher basicamente busca atingir a satisfação masculina da imaginatividade aliada à essência visual masculina e espera o contrário enquanto fator de avaliação da reciprocidade entre os indivíduos.
Quero dizer com isso, em linhas gerais, que mulher se influencia profundamente pelas coisas que lhe atraem sensitivamente falando – mas perceba que esse fator se alia à qualidade da mulher: não é qualquer som, qualquer cheiro, qualquer toque. Não é qualquer presença que a faz perceber que não precisava correr o mundo inteiro em busca do que a satisfizesse – porque o mundo inteiro pode caber em uma pessoa e o indivíduo pode ter, consequentemente, o valor do universo para a mulher.
Não pretendamos adentrar no assunto beleza exterior, até porque recairia no que já foi discutido – o círculo vicioso: mulher busca satisfazer os instintos masculinos na esperança da retribuição intimista de suas necessidades. Para alimentar o círculo, a mulher precisa desenvolver as habilidades de objetividade, despertar de luxúria com requintes de intelectualidade no exercício de imprimir a si mesma na encomenda esperada pelo universo masculino. Eles, por sua vez, precisam mergulhar na experienciação feminina – sentir-se “amiga” dela, para poder entender suas necessidades constantes. Por conseguinte, o macho será seu companheiro, seu melhor amigo, seu homem.
Preciso de um segundo para expor a exceção ao funcionamento fisiológico dos gêneros: eventualmente não existe uma explicação complexa ao fator sexualidade. Por vezes, em momentos específicos e injustamente propostos pelas forças do universo contrárias ao funcionamento harmônico das relações, ela se manifesta por simples mecanismos de sinais e respostas fisiológicas ao estímulo estritamente físico – e nessas situações é vã a discussão de questões de ética, moral e metafísica dos sentimentos. Injusto, mas fato. E por ser fato, mesmo assim requer explicações.
Existe toda uma questão filosófico-científica para o que eu quero dizer, de modo que para manter o que eu tenho, meu silêncio, minha forma e meus trejeitos devam seguir um padrão universalmente convencionado para a perfectibilidade feminina e atrativamente irresistível ao sexo oposto. Quando espero mãos me envolvendo, espero um par de membros superiores específicos, com o cheiro específico e a específica distribuição de pelos corporais. Quando quero sentir um cheiro, precisa necessariamente ser de quem eu espero, o cheiro que se misture a ele mexendo e cheirando meus cabelos enquanto posso ouvir sua respiração e que eu mesma me sinta arrepiada. Preciso, muitas vezes, ligar esse momento a uma música e que tem sido, nas últimas vezes, Led Zeppelin, ou Alicia Keys, ou John Legend – mas pode ser Ne Me Quitte Pas, também, com qualquer pessoa cantando. É necessário que o meu fator X seja perfeitamente compatível com o fator Y e que esse fator reconheça minha sinestesia no tempo, cheiro, ritmo e cor corretos. Que ele não me veja como um kit acima mencionado, mas que ele conheça tudo o que eu falei e que se interesse por saber o que eu estou pensando sempre que eu não esteja falando ou entre em silêncio repentino e duradouro. Porque às vezes minha cara em silêncio diz muito do que eu não consigo verbalizar. E meu corpo diz às vezes, o contrário do que minha voz diz, e vice-versa, mas tudo o que eu quero, sinto e espero é muito bom. Não porque cientificamente eu goste de tentar entender as coisas, mas porque o fator Y tem necessariamente que concordar comigo e ambos saibamos que a maioria das coisas entre nós não é cientificamente explicável. Para ser bom não precisa ser compreensível. E por isso me completa.