27.8.11

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Mostrar com reticências, e não com ponto final

Pode até ser confuso, mas gosto assim. Os sentidos ficam aplicados de um modo caótico e ao mesmo tempo tão belo...

Como quando você é criança, senta no banco de trás do carro e mesmo parado, consegue cortar a estrada a mais de 100km por hora. Sem notar que ela também te corta, na mesma proporção em que você acelera ou freia - mesmo sendo apenas um passageiro do banco de trás e sequer poder opiniar na música do rádio.

Mas ela também te corta, e esse eterno diálogo em sentidos contrários causa a impressão de que você realmente pode chegar a algum lugar, por mais controverso ou distante que isso possa parecer.

Como quando você é criança e fica horas contemplando a paisagem pela janela do automóvel - paisagem essa que os teus olhos infantis ainda classificam como passiva, e que podem jurar estar o tempo todo parada - até o dia em que você é apresentado aos malditos referenciais e passa a perceber que elas também corriam. E que, dependendo, parado estava você, com os cabelos bagunçados e os olhos cheios de certezas contidas.

Vezenquando fica a impressão de que todos os meus assuntos acabam convergindo para o mesmo tema. Como se, no final das contas, eu sempre quisesse falar a mesma coisa por meios diferentes. Esgotar todos os modos de explorar uma única ideia que eu nem faço idéia do que seja, mas sempre sinto da mesma maneira - mesmo quando as palavras insistem em mudar de posição ou nome.
Algo grande o suficiente para assumir diversas formas e gostos e acabar sempre no mesmo lugar – mesmo que a palavra não seja lugar. Algo grande o suficiente para acabar sempre no mesmo lugar e assumir diversas formas e gostos. E sempre.
- Acho difícil de acreditar.
- Talvez por isso seja mais interessante.
- Mas ainda sim é difícil.
- E você queria que fosse fácil?
- Arram.
- Pra quê?

9.8.11

“Não sei fazer ¨jogo social¨. Até saberia, mas não me interessa, tenho preguiça…”

Caio F.

Você prefere ser feliz ou estar certa?

(metáforas de uns dias ruins)


Eu mordi a minha língua. Todo mundo morde a língua vezenquando, eu sei. Mas, olha só, eu dei uma mordida tão forte na minha língua que não sei como não arranquei um pedaço. Foi a mordida na língua mais forte de toda a história das mordidas na língua em todo o mundo.


No dia seguinte, eu não consegui comer quando acordei. Me obriguei a tomar uma caneca de chá, porque precisava ficar acordada. Como tudo na minha vida, eu esperei que passasse naturalmente. Eu não coloquei nenhum remédio. Só esperei passar. No meio do dia, tomei um suco. À noite, tomei outro suco e comi uma tigelinha de arroz. Depois tomei outro suco. E essa foi a minha alimentação durante o dia. Porque eu mordi a língua e por causa disso eu senti dor e fome.

E a mordida na minha língua continuou doendo mais do que tudo e me lembrando durante um dia inteiro o quanto eu sou idiota. Porque eu mordi a minha língua. E eu mordi tão forte que não sei como não arranquei um pedaço e eu não conseguia comer e eu escolhi não fazer nada.

Eu esqueci que algumas dores não passam. Como tudo na minha vida, era preciso fazer alguma coisa. A dor não ia passar sozinha. É claro que, como tudo na minha vida, eu esperei tempo demais pra resolver a situação. E quando cheguei em casa, já na noite do dia seguinte, não tinha remédio pra mordida na língua e não tinha farmácia aberta.

A sugestão que eu recebi foi aplicar bicarbonato de sódio. Eu era muito ruim em Química na escola (hoje, eu sou ruim em Química na Universidade...), mas acho que nenhuma estupidez justifica eu só me tocar que bicarbonato de sódio era um sal quando eu coloquei na minha língua machucada.

O bicarbonato de sódio fez o papel dele e ardeu como um sal. E caíram duas lagriminhas. Uma por causa da dor. Outra por causa da minha estupidez.

No dia seguinte, só consegui comprar um remédio depois que saí do transe, quando parecia que eu estava sentindo dor desde que nasci. Eu já nem sabia viver sem aquela dor.

Uma amiga que já mordeu a língua a ponto de sangrar definiu isso como "muita inabilidade para viver."

Se eu não sei nem coordenar meus dentes e língua, o que é que eu sei?


Minha vó é que diz: "minha filha, como você é capaz de fazer isso com você mesma?" não sei, vó. Eu juro que não sei.

1.8.11

Eu quis tanto acreditar neste conto de fadas. Mas eu sei que contos de fadas não acontecem, principalmente na minha vidinha. Eu estou pagando muitas encarnações desastrosas pelo que estou percebendo. Eu não tenho pretensão de voltar. Você não tem como vir me encontrar. Há quase uma semana é como se não tivéssemos nos reencontrado. Assim como há mais de algum tempo, sumiu de novo. Ou se deu conta deste engano antes ou é apenas mais uma coisa escrota. E tá doendo. Juro que ta doendo lá no fundo. Porque representou uma possibilidade, porque por pouco tempo foi mágico, foi exatamente o que eu precisava para dar um tom leve a minha vida tão tumultuada no momento. Porque era alguém que eu conhecia, que era legal, quer foi inteligente, que fazia minhas noites mais doces e que nunca poderia ter virado uma coisa escrota. Claro, eu surtei. Aliás, quem não surtaria com aquilo tudo. Mas se me serve de consolo, se serve para aliviar qualquer coisa, eu não imaginei tudo isso. Não mesmo. Desta vez aconteceu e eu tenho todas as provas guardadas. Poderia ter sido belo, poderia ter sido um balsamo. Poderia ter sido tantas coisas. Mas sei, ou pelo menos estou tentando me conformar, que não poderia ser real e muito menos eterno. Quem sabe (e eu inutilmente ainda não consegui me desapegar desta ideia ridícula) poderá ser uma epifania em dezembro. Mas até lá eu tenho meses pra me convencer de que poderá ser isso. Se não me convencer disso nunca poderia te encontrar. O melhor mesmo seria eu nem querer te ver. Mas ainda preciso trabalhar isso em mim, confesso. Se apenas alguns fatos me desconpensou dessa forma, imagina o mal que não me causaria uma vida. Que mal eu mesma não me causaria. Mas sabe eu preciso dizer, na verdade eu acho que eu preciso me dizer isso. Você poderia ter se dado conta disto tudo antes, você poderia ter visto que era uma loucura imensa, mas tinha que ter assumido que tanto eu quanto você perdemos o tom e contribuímos para isso. Acabou sendo mais uma banalidade pra você, como tantos outros casos que eu conheço. Depois de tudo, seria digno uma palavra. Silêncio não combinava com a situação. E mesmo sabendo que deveria ter te riscado da minha cabeça no momento que soube que você não se dá ao trabalho nem de responder! Eu sou fraca o suficiente pra assumir que não consegui. Que mesmo assim, eu não consigo parar de sentir tudo isso, afinal não estaria sentindo se não fosse tão importante pra mim. Mas vai passar, todo sentir se esvai, mais cedo ou mais tarde. Dessa vez só vai demorar um tantinho mais. Sinto que estava errada, no lugar de verborragia vem ai um ostracismo. Vou precisar mais uma vez me esvaziar. Um pouco do amor próprio escorreu. Mas não morri antes, em situações bem piores, não vai ser agora não é mesmo?